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sexta-feira, 28 de agosto de 2015

A mulher e os filhos

[esse texto é duro]

Um dos pontos fortes da vida recente nas redes sociais tem sido o clamor pelos direitos e lutas femininas. Capas de revistas simplesmente geniais pipocaram e eu estou caindo de amores pela internet. Volta e meia surgem textos sobre questões das mulheres que poucos pensam, e muitas escondem e relevam - ou melhor, relevaram. O grito feminino virtual dá mais poder ao grito audível, ao posicionamento, à igualidade.

Puxando a sardinha pro meu lado, há algo que me chama atenção. Uma tendência social, pode-se dizer. Um comportamento em evolução das mulheres. Se há cem anos todas as mulheres eram compulsoriamente casadas e mães - exceto as freiras, suponho (ou até as freiras madalenas reformadas, como mostra o filme Philomena), hoje, cada vez mais, há uma demora maior para que a mulher decida se casar ou se tornar mãe. Mais independência financeira e profissional, carreiras mais sólidas, viagens, ou simplesmente mulheres que não querem ter filhos (ou, ainda não).

Tenho 23 anos e como tantas, minha gravidez não foi planejada. Sim, acho que isso vai continuar acontecendo na minha geração, na geração da minha filha, neta, bisneta. Não se freia o desejo. De qualquer maneira, sei que queimei a largada. Minha mãe me teve aos 36 anos. Eu poderia ter esperado mais 5, 10, 15, 20 anos para ser mãe. Não esperei. 

Tudo bem.

Acontece que, silenciosamente ou não, existe um embate entre mulheres que têm filhos e aquelas que, por um motivo ou outro, não. Acho que não tem sororidade que ultrapasse a competição humana. As mulheres com filhos se acham mais vividas, mais felizes, mais sofridas, mais espertas, mais sábias, mais maduras. As mães com mais filhos acham isso das mães de um filho só. Se você tem um filho de 5 anos, provavelmente já pensou isso de uma mãe de um bebê de 6 meses.

Admita.

Não sou contra a competição humana, aliás. Acho que a ideia de subir um degrau na vida depois da maternidade, sei lá, meio que válida. Afinal, achar isso de si mesma é um dos poucos reconhecimentos. Como dizem os textos de Facebook, você não ganha troféus por virar noites acordada com seu filho doente ou ganha prêmios quando o leva ao pediatra. Você só está fazendo sua obrigação.

Parêntese pessoal: para uma menina que engravidou sem querer aos 22 anos, eu deveria ganhar prêmios pela minha maternidade. Estupidez e arrogância? É. Mas é o que sinto. Nunca, nunca pensei que fosse render tanto. Aos 22 ou aos 40, ser mãe é difícil pra caralho. Cada vez fica mais difícil. Quando vejo meninas da minha idade fazendo coisas que eu perfeitamente poderia estar fazendo, penso "poxa, eu poderia estar fazendo isso". Em seguida, penso "mas o que estou fazendo tem mais valor para mim e isso me engrandece como pessoa". E tudo bem. E o esforço é válido. E o reconhecimento, por mais que seja somente meu, também me orgulha.

Ainda defendo a não-maternidade quando essa for a opção. É lógico que sim. Quem não quer ter filhos, evite-os. Simples. Não me tornei uma doutrinadora de pré-mães. E nem olho para meninas da minha idade com olhos de soberba. Vocês aí, eu aqui. É bom quando nos misturamos. Vou tentar não ser chata não falar de filho o tempo todo. 
O que eu não defendo, de maneira nenhuma, é a ideia de uma vida que só toma sentido depois dos filhos. Sabe quem fala "filhos, minha razão de viver", "filhos, depois que vocês chegaram, minha vida começou de verdade"? Não sou eu. Sempre ouvi isso como uma espécie de anulação, como se a vida da mulher de nada tivesse valido até os filhos aparecerem. Esse é um dos pensamentos mais retrógrados que alguém pode ter sobre si mesmo. Quando escuto coisas assim, penso em Vidas Secas. Numa vida árida, sem graça, sem perspectiva, a qual a única forma de amor legítimo é a maternidade. Penso numa família com 10 filhos porque ter filhos é a única alegria possível.  

A minha vida era completa sem a Stella.
A minha vida é completa com a Stella.
Fica esse como o meu manifesto.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Retribuição

Começamos a tê-la ao nosso lado no inverno passado. Era frio e parecia o certo a fazer. Como deixar tal criatura em seu tamanhozinho de botão ali, sozinha, sem o calor de seus pais?
Sei do tabu de dormir ao lado dos filhos, mas eu sinceramente não consigo não praticar esse apego. Hoje a cama é dividida em três. Se dormíamos, eu e o pai, numa cama de solteiro, nada mais justo do que uma cama de casal para a família toda.
Dormir sem ela? Já não sei. Me nutro da necessidade que acho que ela tem de mim. De repente ela nem precisa tanto assim de mim, mas eu preciso dela. Preciso acordar do seu lado, fazer carinho em seus cabelos, dormir mais um pouquinho. Raras foram as vezes em que dormimos separadas desde do que começamos, mas nenhuma delas foi ideal. Dizem que uma mãe nunca mais dorme - eu, mãe que sou, sem planejar, só durmo bem com ela do lado.
Nada melhor do que uma tarde dormindo juntinhas. Organizei minha vida para poder aproveitar as maravilhosas tardes em que pegamos no sono ao mesmo tempo. Também acordamos juntas. Para vários aspectos, ainda somos uma só.
Normalmente ela não gosta de dormir agarradinho, como eu adoraria. Pena. Seria a minha melhor conchinha. Depois de mamar e cair em sono profundo, ela se desvencilha dos meus braços protetores e vai dar piruetas sonadas, chutes na cara do pai. Tudo bem.

Essa noite, apesar de tudo, foi diferente. Num rompante de raiva, vejo o pai se levantar, ligar a luz do quarto e caçar um mosquito. Ao mesmo tempo, Stella dá uma choradinha e se vira para bem pertinho de mim, [depois de um ano inteiro], fundindo-se ela mesma
na melhor e mais especial conchinha.

Não me lembro exatamente de como foi, mas me lembro da sensação.
Assim são os filhos: passamos a vida a dar tudo o que temos e o que somos sem nada pedir em troca;
quando, por um acaso, por sorte ou por azar, eles retribuem...
parece que ganhamos o mundo inteiro.

domingo, 21 de junho de 2015

Não há como negar

Me acorda dizendo as palavras de amor que eu nem saberia como dizer. Com sua boca cheia de dentes, me chama de mamãe e me volta para mais um chamego. Com seus passos decididos  vai aonde quer. Olha para trás, testando minha presença - mamãe, você está aí?

Às vezes levo o baque do tempo que passou.
E eu, que já não sei viver sem seu amor, fico perdida na espuma dos dias. Como você me deixa para trás com seu ritmo que nunca pára de correr, correr, correr. Tento me desacelerar, te desacelerar... mas há freio para a flor que desabrocha porque há de desabrochar e a chuva que chove porque há de chover? Te digo para ter calma, mas você só me mostra que eu não te alcanço, não.

Em mim, aquele coração que fora outrora maravilhado somente com a sua grandiosa existência pequenina, hoje já não conta mais as palavras que você fala, as músicas que sabe cantar, os sorrisos. A cada semana, o salto. Um salto maior que o outro. De repente, sou mãe de um alguém que pensa, quer, sente, dança, sorri e já quase não chora.

Delicio-me e me agarro no pouco de tempo que ainda tenho com a sua pequenice - mas você é grande, é enorme, é a maior coisa do mundo. É maior do que os meus sonhos ou planos. E, cada vez mais, cresce, brota, floresce.


Quero dormir com você, sentir seu cheirinho de bebê, contar os dedinhos das suas mãos, te fazer cosquinhas. Quero fazer isso até cansar antes que você se canse de mim. Aproveito o máximo que posso. Como voa, esse tempo. Não há como negar.

Dorme, estrelinha, que só assim te tenho como minha.

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Vamos bater uma foto?

Oi gente! Muito tempo sem escrever! Acho que fico nessa abstinência nos momentos de transição. Esse é um deles. Estou numa adaptação a um novo estilo de vida - e o mais difícil é me aceitar nele, já que sou muito autocrítica e exigente.

Como vocês sabem, dei um duro danado para me formar. E me formei. No tempo certo, sem atrasos, com a minha turma original. Gostinho de dever cumprido, sabe? 5 anos de faculdade, 4 de administração, um diploma ao final.

Mas a vida me guarda surpresas (e eu as aceito e adoro). Não somente engravidei no meio da faculdade como também mudei de vida, me "casei", comecei a morar junto do meu namorado, me tornei uma mãe até natureba! ...Só que: as mães (especialmente as mais conscientes) têm muitas questões.

Para mim, o bicho pegou no profissional.
Convenhamos: fico nesse drama de ser ou não ser. Sou ou não uma pessoa formal? Alguém que necessita de rotina, horário, trabalho certo? Sou exatas ou humanas?? (Até agora...não sei...dizer?) Fiquei anos caminhando para ser um adulto da mais extrema normalidade. Sei lá, talvez pensasse que isso era o certo. Estranhava e invejava aqueles que viviam de outro jeito.

O fato de ainda não ter um emprego antes de engravidar (estagiava em Furnas e gostava bastante, pena que eles não efetivam estagiários) ajudou para o meu completo desapego ao emprego. Quando me vi contratada numa empresa multinacional, com horas extras, super formalidade e, o que me matava - nenhuma subjetividade -, senti um golpe.

Além de deixar minha pequena Stella, ia dar 11 horas do meu dia para algo que não me dizia respeito. Algo que não era meu. Entendo que muitas pessoas optem por viver assim, mas eu não. Muitas vezes me anulei pensando que eu era uma pessoa qualquer, que se adaptaria e viveria daquele jeito, como se aquilo nada significasse. Acontece que, ao dar metade do meu dia para o trabalho, a Stella ficava desassistida. Quando estava em casa, eu precisava ficar colada nela - a culpa materna. Aí, o tempo para mim ia para o saco. A soma não estava dando certo. Eu estava me esgotando.

Sorte que me mandaram embora. Rá, a divina providência!

Não me desesperei. Pelo contrário, fiquei muito aliviada. Precisava agora de uma forma inteligente de fazer dinheiro e, finalmente, tinha a chance de pensar sobre o que fazer. O que mudou dentro de mim foi a cobrança interna -
não vou
mais
me forçar a fazer nada
que não queira fazer
por completo.

E dane-se a vida corporativa.

<<Para mudar, é preciso ter coragem>>

Na semana seguinte, entrei num curso de fotografia. É, eu sou assim, faço as coisas na onda da animação. Como diziam na empresa, as primeiras 72 horas de uma ideia são o tempo ideal para que ela aconteça e se implemente.


Na fotografia, consigo ter uma balança entre o "ganhar dinheiro" e algo de subjetivo. Tenho um público facilmente acessado, as mães. Mães amam fotos. Famílias amam fotos. Se registro momentos das relações, dou a essas famílias recordações que duram para sempre.

Rapidamente comprei uma câmera boa e comecei a bater foto. É, de maluca, mesmo. Nasceu Flamingo Foto. Fiz muito ensaio de graça, entregando centenas de fotos e me encontrando com pessoas pedindo em troca apenas um portfolio. Acertei e errei. Em um mês de foto, mais de dez situações - casamento, batizado, família.
Minha parte favorita do trabalho é o feedback. Respostas calorosas e animadas são a grande cereja no bolo.

E, acima de tudo: fico mais com a Stella. Se um ensaio dura 1h30, o resto do trabalho eu faço de casa. Posso ficar com ela, brincar com ela, levá-la para passear e ver outras crianças, cozinhar para ela, dormir e acordar com ela em nosso tempo.

Pode ser que a fotografia não me leve a lugar nenhum; espero que me leve a lugares e patamares que nem nunca imaginei. Espero que continue sendo o que tem sido: algo novo, mágico, onde uma coisa leva a outra e todos ficam satisfeitos. Espero fazer mais pessoas felizes. Para mim, agora, não tem salário de multinacional que pague isso.

segunda-feira, 23 de março de 2015

Carta para Stella em seu primeiro ano


Filha querida, 

Mostrando Laura_extra-5.jpg



esta é uma carta que lhe escrevo em muitos dias. Não é possível deixar um relato deste nosso primeiro ano juntas em apenas uma sessão. É preciso voltar ao papel muitas e muitas vezes. Melhor para mim, que passo mais tempo a pensar em você. 

Estamos aqui para celebrar mais um dia 20 de março. É o meu primeiro ano como sua mãe. Neste longo ano, estivemos juntas e ensinamos uma a outra sobre noções que não tínhamos. Mutuamente crescemos. Naturalmente nos tornamos o que somos. Por maiores que fossem os desafios, amar você foi a coisa mais fácil do mundo. 

Dizem que a maternidade nos muda, mas eu não me sinto assim. A maternidade me apurou, legitimou a minha coragem, me fez mais segura das minhas atitudes e opiniões. 

No dia 20 de março de 2014, tive uma lição de coragem. Com uma gravidez de mais de 41 semanas e uma cesariana marcada, fui forte. Afirmei que comigo seria diferente. Com a gente seria diferente. Não poderia ser de outro jeito. Não sabendo o que estava fazendo, fui e fiz. Na noite em que você nasceu, eu me afirmei. Ninguém disse que seria fácil, mas também poucos disseram que seria tão bom. Um parto normal foi só o início da nossa história. No mesmo dia 22 de março, esse que comemoramos agora, nós íamos para casa juntos. Vivemos tudo juntos. 

Atualmente, depois de um ano de vida, você já demonstra que há mão dupla em tudo que sentimos e fazemos. Quando sorri, ri de nós, acorda e nos chama, nos oferece comida, nos dá abraços sinceros, se conforta em nossos abraços. Me lembro de como eu chorei ao te ouvir gargalhar pela primeira vez; de quantas vezes você me fez gargalhar. Nada do que vivemos poderia valer mais a pena. 


Quero sempre estar com você e te acompanhar nos seus passos. Quero que você seja você e prefira tudo o que te toca o coração. Quando estivermos (infelizmente) longe, que não esqueçamos uma da outra e do que vivemos juntas, descobrimos juntas. Que você carregue os meus valores e seja parte do meu legado na vida. Você me pegou num estado de maternidade mais bruto - sem saber de nada, fiz o que soube fazer. O resultado é visível. 

Ao mesmo tempo que tenho pena de que você cresça (porque você é muito fofinha e maravilhosa como está e eu tenho vontade de congelar o tempo e dormir abraçada com você para sempre), é gratificante saber que sempre estaremos juntas. Dizem que passa rápido. O triste é que passa.   

Você vai conhecer todo este amor quando se tornar mãe. Enquanto isso, você vai me amando como sua mãe e eu vou te amando muitão como filha, tá? 

Obrigada por ter vindo tão cedo. Assim passamos mais tempo de nossas vidas juntas.   

Te amo como amei as principais coisas da minha vida. Vivo com você, para você, através de você, por você. 




Mamãe. 


(esta carta foi impressa, assinada e estará guardada para a Stella ler e reler quando quiser)

quinta-feira, 19 de março de 2015

Há um ano que não durmo


Há um ano que não durmo. Há um ano que vivo mais do que o esperado. De todas as formas de viver, optei por isto. A maternidade é um vício que eu gosto de exercer. Há um ano que não durmo. Nino, brinco, amamento. Mas não durmo. Escrevo, leio, trabalho, produzo, me formo, mas não durmo. No comercial da Ortobom, lá estava a sentença: trate bem o seu colchão, você passa um terço da vida sobre ele. Um terço. Eu? Eu não passo um terço não, obrigada.



Muito se fala sobre o místico sono das mães. O comparam com as fadas e os unicórnios. Ele de fato existe? Pragas são rogadas. Do lado de cá, muito se reclama. Dormir vira um bem precioso, uma moeda de troca. Tudo vira. Um banho longo. Um bom jantar. Dormir é presente de aniversário, férias, etc.
Nego todos os rótulos e lhes apresento a verdade:
eu
gosto
de viver
assim.


Vejam bem, não que não haja cansaço. Há cansaço, e muito. Mas, por outro lado, encontro forças que nunca achei que tivesse. Me obrigo a dormir só pra não quebrar recorde, não virar a noite em claro. Se não tivesse nada para fazer no dia seguinte, acho que assistiria um filme por madrugada.

Sabe o que acontece com uma mãe? Ela se torna resiliente. Só os fortes sobrevivem. Descobri que eu funciono bem dormindo 6 horas por dia e acordando pelo menos uma vez por noite. Senão, já tinha cedido a babás, "técnica" de deixar o bebê chorando caso ele acorde, mandingas, viagens sem a cria, qualquer coisa. 
Estou há 365 noites sem as tais 8h seguidas. Parece chocante quando eu digo, mas na prática não é ruim. Devo estar envelhecendo, mas a causa é justa. Há muitos meses que eu simplesmente acordo sozinha no meio da noite - e eis o relógio biológico mãe-bebê. Às vezes eu acordo e a Stella só acorda um tempo depois.

Descobri que nesse tempo de sono perdido, ganho coisas. Não dormir é psicodélico. Entra-se num estado de superalerta. Me sinto no Clube da Luta, mas sem insônia ou qualquer tipo de sentimento negativo. Quando acordo de noite, penso. Faço planos. Tenho ideias. Aproveito do silêncio.

Houve um tempo no qual eu me estressava por viver assim. Já tentei fazer a Stella dormir um sono regrado - mas olha a maternidade anarquista aí de novo. Convenço-me de que um dia ela vai aprender a dormir por mais de 5h seguidas. Eduquei-a para dormir de noite, e isso faz de nós seres civilizados. Mas não ouso ir além. Já passei boas noites em claro tentando seguir técnicas de livr... por que estou fazendo isso?

No aniversário da Stella (20 de março), comemoro: o meu primeiro ano como mãe, o primeiro aniversário do meu bebê, um ano de amamentação, um ano sem dormir uma noite inteira. Se eu ligo? Not at all.

E digo: filhos são ótimos remédios para insônia, dramas paralelos desnecessários, preguiça e falta de produtividade/má gestão própria.

segunda-feira, 9 de março de 2015

Tem uma mãe no BBB

Vocês assistem o BBB? Já assistiram? Sabem do que se trata? Pois é, eu assisto diariamente. Assisto porque pessoas são sempre interessantes. Assim como sempre leio os 50 fatos de vocês, quero saber mais sobre pessoas. O que fazem, como vivem, como se relacionam.

No dia da mulher de 2015, uma coisa diferente aconteceu no BBB: uma participante decidiu sair do jogo. Isso já aconteceu antes, mas nunca tendo percorrido um caminho tão longo. De um lado, vemos Tamires - paulista, 24 anos, cirurgiã dentista, chorona, e mãe - muito emocionada, dizendo que estava feliz em sair, que sentia saudade de casa, de sua filha de 3 anos, que não estava sendo ela mesma. Do outro lado, vemos a Globo puta da vida. Pelo jeito, "desistir" do BBB depois de toda aquela seleção de candidato é altamente frustrante para a produção. Boninho, Bial. Ana Maria Braga estava mais séria hoje do que ultimamente. Um a menos encurta o jogo. Diminui o tempo de patrocínio. É menos voto. É menos programa. É menos dinheiro.

Fiquei muito chocada ao ver o que o Boninho disse para os restantes. Frases como "quem sai é desistente, é perdedor" são muito rudes e desumanas. Sei lá, parecia que ela estava abrindo mão de uma enorme oportunidade. Abrindo mão. Boninho usou palavras como "suicídio de candidato". Gente?!

É que algo estranho acontece conosco; nós, as mães. Para mim, Tamires não é perdedora. Ela apenas optou por manter seus valores - ao ver que eles não estavam sendo exercidos, ela entende que não está satisfeita e decide ficar em paz ao sair da situação. Desperdício de oportunidade? Será? 

Hoje pela manhã, Ana Maria Braga (sim) perguntou, em voz séria e dura, se ela estava decepcionada com o jogo, se havia pensado que seria diferente. Tamires nos mostra (acho que pela primeira vez) um lado humano daquilo tudo. Ao invés de festas, bebedeira, piscina e academia de graça, dentre outros, Tamires sentiu a ausência de sua família, a pressão dos demais concorrentes, o clima pesado de um jogo de eliminação de pessoas. 

Aprendam: tudo na vida tem um preço.

Enquanto mãe, o que eu não consigo entender é: o que há de errado? Isso é parte de ser mãe. A partir do que se torna "mãe", nenhum momento que não é compartilhado é completo. Um pedaço de nós se vai a cada distância. Se ganhamos e não estamos próximos aos filhos, a vitória jamais será completa. Pode parecer pouco ficar três meses longe de um filho. Mas, acreditem, eu (por enquanto) não ficaria nem três dias. A saída não foi somente por isso, mas com certeza absoluta esse fato pesou. Pode ser que outra candidata com um filho menor quisesse ir até a final com garra - no caso de Tamires, não. E tudo bem, obrigado.


A Tamires não ganhou R$1,5 milhão, mas ganhou a presença de sua filha quando sentiu que não aguentava mais ficar longe dela. O que há de errado nisso? Ser mãe é ganhar mais humanidade. As pessoas vêm antes das coisas. No polêmico dia da mulher, isso foi discutido: geralmente são as mulheres que abrem mão de carreiras, bons empregos e super oportunidades pelos filhos. Às vezes abrimos mesmo. Se abrimos, é de coração e, mesmo sentindo a perda destas demais coisas, preferimos abrir do que se perder de um sentimento que é tão importante. É duro decidir e "desistir" das oportunidades, mas há algo de mais especial que acaba valendo a pena. 

E dica: vamos parar com essa de acusação de desistência. Todos são livres para mudar suas trajetórias. Eu já ouvi esse discurso antes e ele me mostra que há muito a ser mudado. Mudar de trajetória não é desistir, é se reinventar. Não só as mães deveriam poder abrir mão das coisas que não gostam. Todos deveriam poder.

domingo, 1 de março de 2015

A Maternidade Anarquista

Hoje fui acordada com uma chuva de comentários negativos nos grupos de maternidade que sigo no Facebook. Todos atacavam um post do Hospital Israelita Albert Einstein, de SP, que, contrariamente ao que diz a OMS, instruía a não amamentar assim que a criança chorasse (pois isso daria a ideia de que amamentação seria ligada ao carinho, não apenas à alimentação), ensinar a criança a não dormir no quarto dos pais e não embalar para dormir. O Hospital afirmava que, ao fazer isso, evitava-se a criação de hábitos ruins, difíceis de substituir. O negócio foi tão ruim que até foi tirado do ar.

Tirando todo o absurdo retrógrado que isso é (é criminoso, eu diria), a nível de Dr. De Lamare, fiquei pensando: quantas mães acreditam nisso? Quantas grávidas desinformadas caem nessa balela e fazem isso com os filhos? Quantos bebês sentem fome e necessidade de carinho e não são correspondidos? Você faria isso com o seu bebê?

Durante a minha vida poucas vezes pude exercer exatamente o que eu quis. Deixei de fazer ou fiz tantas coisas por indicação, pedido ou ordem dos outros. Porque aquilo era o "certo", o socialmente aceito, o que não pegaria mal. Tudo bem, né. É necessário. Quando criança, quando adolescente, agora que já sou mais adulta. Sigo fazendo inúmeras coisas que são as mais indicadas ou recomendadas. Por que, meu Deus? Se elas vão contra o que eu quero ou imagino ser o melhor pra mim, por que ainda as faço?? Oh, o conflito interno.

Apesar de tudo, encontrei um espaço aonde a hierarquia não existe. Aonde eu posso fazer o que acredito ser melhor porque compete a mim decidir. Contrariando livros, médicos, hospitais menas, outras mães, minha mãe, e tantas outras entidades de pressão e poder... eis que veio a maternidade. 






Crio uma menina há quase um ano à moda da casa. Amamento o quanto eu quiser, dormimos na cama com ela, não demos chupeta, ela toma banho de chuveiro comigo, ela veste preto/cinza/azul (cor de menino? Você acha?) e nunca usou esses trecos perigosos para bebês (tipo presilhas ou faixas), ela já viajou de avião e de ônibus, nunca dei complemento de leite, dorme tarde e acorda tarde, não ensinamos a ficar um tempão presa no carrinho, hoje em dia come até no meu colo (e não necessariamente na cadeira-trambolho), não comeu antes dos seis meses, nunca comeu açúcar, fica no colo SIM, é embalada SIM, foi parto normal SIM, não faria cesariana por escolha. Ela é criada com muito amor e apego. Queremos que ela seja uma adulta com confiança para viver sua vida bem, e por isso garantimos base para tal. 


Crio minha filha com o que para nós parece o mais certo. Não é o que estava nos livros, ou o que o pediatra disse, ou o que fulana ou fulano falou que fez e deu super certo. No máximo me guio pela OMS. De resto, temos confiança e seguimos o que o nosso instinto diz. E o feedback da Stella, que anda, fala algumas palavrinhas, é super comunicativa e simpática, só chora de sono, nunca teve um resfriado e fica bem com tantas pessoas que não eu ou o pai nos mostra que por enquanto dá certo (e quantas coisas são classicamente feitas, mas estão erradas?).


Queria eu ter coragem para guiar outros assuntos inteiramente dessa forma. A vida vai dizer se estivemos certos - e em que ponto de vista.


quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Porque ainda amamento

É fato: daqui a pouco, vai ficar muito "questionável" a opção de ainda estar amamentando minha filha, que hoje tem 10 meses. Questionável para os outros - para mim, é muito lógico.

Existe um peso cultural muito grande sobre a amamentação. Ele começa a se projetar sobre as mães que não amamentam e carregam secretamente a culpa (que pode ser pequena ou grande) de não fazê-lo. Então, enquanto você está lutando para tentar amamentar e fazer o melhor para o seu filho, naquele começo onde tudo é dor-novidade-cansaço-palpites desagradáveis, há uma pressão para que você amamente. É uma pressão quase geográfica - minha mãe fala que só as mães de terceiro mundo amamentam com tanto êxito. Nos EUA, onde a cultura é peitocêntrica e um par de seios fartos tem o mesmo impacto que a bunda da Paolla Oliveira por aqui, é fácil ver mamadeiras no primeiro ou segundo mês de vida dos bebês. Amamentar em público? Nem pensar, mães americanas amamentam no banheiro.

Até os 4 meses da Stella, eu escutava uma pergunta recorrente: "você ainda está amamentando?". Depois de muito me perguntar sobre essa pergunta (uai, não é óbvio?), me dei conta de que essa era a maneira mais educada de saber sobre o processo natural da amamentação. Sim, amamento. O feedback dos outros era positivo - que bom, está certo.

Seguimos os 6 meses de amamentação exclusiva. É difícil e exige muita dedicação (além de presença quase constante ao lado da minha filha), mas passou. Passou, como tudo passa. Só de saber que em 2012 a média de amamentação brasileira era de 42 dias (!!), fico feliz de termos conseguido e com muita alegria.

Entretanto, sei que estamos chegando a um ponto crítico. Quando o bebê deixa de ser uma criaturinha indefesa e vira uma criança autônoma? Stella já anda. Quando vão passar a me olhar torto? Minha mãe já fala que "está de bom tamanho". Toda aquela cultura que pregava a amamentação se dissipa com o tempo. Eu fui amamentada até os 9 meses e o Guilherme, até os 8. Acho que a geração passada foi "menos" amamentada, num geral. Para as mães dessa geração, isso poderia ser um tabu. O mito da dependência prolongada, da falta de vida própria (é), do bebê ficar mais "bobo" e menos independente...



E quanto a nós? O que nós achamos?

A considerar que:
1. O aleitamento deve se fazer até os 2 anos de qualquer criança, seja de leite materno ou qualquer outro que não o de vaca. Consideremos que eu decida desmamar a Stella hoje. Consideremos que uma lata de leite artificial - que não oferece imunidade, que é menos saudável, que às vezes contém açúcar e um monte de químicos - custe no mínimo R$20. Façam as contas. Pensem que até hoje não compramos um pacote de fraldas (obrigada, super chá) e nenhuma lata de leite. Até que bebês não são assim tão caros como todo mundo dizia...

2. Eu até hoje não menstruei e não uso pílula. Demais, né? A livre demanda de leite faz com que eu não tenha que passar por essa chatice mensal desde o meio de 2013. Ao mesmo tempo, continuo emagrecendo. Hoje me pesei num médico de exame admissional e estava com 45kg - quando falei que era por conta de livre demanda de leite, ele fez uma cara... hahaha

3. Dizem que amamentar cansa, mas, apesar de não dormir uma noite inteira há um ano, não me sinto tão desperta há muito tempo. Não me sinto sugada ou enfraquecida. Sinto como se um líquido mágico da saúde corresse em minhas veias, esse que é revertido em leite. Há quantos meses não fico doente... Por ele mantenho hábitos saudáveis desde a gravidez. É gratificante.

4. Tenho certeza que estou provendo saúde à Stella e principalmente a manutenção desse vínculo - quem já amamentou, sabe a delícia que é. É um momento que não volta. Amamentarei enquanto ela quiser.

E pela Stella? Tá ruim de desmamar. Nenhuma perspectiva de desistência. Pelo jeito como nos relacionamos, essa love story vai longe. O jeito como ela me procura durante a noite; como acorda como um passarinho, de olhos fechados, chorinho solto e boca aberta; ela quer o que é mais querido para nós. Melhor pra mim e para ela.
O Ministério da Saúde recomenda o aleitamento materno até os 2 anos ou mais. No que depender de nós duas...

domingo, 18 de janeiro de 2015

Ser mãe em tempos de selfie

Se eu tivesse.... 
Se eu tivesse um somatório de fatores que agora não tenho (entre elas, real inspiração), pintaria uma frase que vi um dia num quadrinho de MDF: “Os filhos aprendem com o que somos quando ninguém nos vê”. A frase é tão boa e tão carregada de significados atualmente que eu seria capaz de pintá-la num quadrinho e pendurá-lo na minha casa, em algum lugar onde não seria esquecido.

Pensemos: o que somos quando ninguém nos vê? Quando estamos diante de nossos filhos, sejam eles pequenos ou grandes, ou nós ocupados ou desocupados, pacientes ou impacientes, afim de conversa, interação, ou apenas querendo ser transparente...? 

A condição de mãe faz de mim (e espero que de todas as mães) um ser que, apesar de desaparecida para tantos outros (os amigos, especialmente), nunca mais poderá ser transparente. Assinei um contrato de presença infinito com a minha filha e para ela tenho que estar sempre presente, visível, à distância de um chamado. Enquanto for um bebê ou até uma criança pequena, minha presença no maior tempo possível é determinante para o seu desenvolvimento, suas relações com os outros e consigo mesma. 

Bem, ser transparente parece ser um mero conflito interno meu. Muito pelo contrário, o que todos querem atualmente passa muito por ser visto. O tempo todo. O que fulano está fazendo? Basta ir no Facebook e descubro. Descubro onde trabalha, com quem anda, os lugares que frequenta, entre tantas e tantas outras informações na beira do dispensável e até do perigoso.

Mas tudo bem. Quem não faz assim hoje, né? Quem não é visto não é lembrado. Para ser legal e ter mais amigos, parece quase necessário que estejamos conectados o tempo todo. E além – que sejamos vistos, fazendo de nossas vidas novelas para qualquer público que seja. 

É assim com os jovens. É assim com tantas pessoas mais velhas que conheço. Suas memórias passam a estar ligadas diretamente ao que foi para o Facebook, para o Instagram, para o Twitter (e a subjetividade? Será que essa gente faz diário?). Tudo bem, características do século. Essa é a cultura do nosso tempo. 

Acontece que às vezes viramos mães (é, é bem assim). O que fazemos com todo o narcisismo de nosso tempo? Ué, incluímos nossos filhos! Passando por todas as questões de segurança (que muitas vezes não pensamos), a verdade é que simplesmente precisamos expor nossas vidas. E por quê? Primeiramente: se a maternidade se refere a um natural processo de internalização de novos valores e de certo “sumiço” para os outros, o fato de vivermos nesse tempo tão narcísico permite que nos exponhamos mesmo sem nem sair de casa. É um sinal de que está tudo bem. – Não vejo fulana há um ano, mas o filho dela está uma gracinha no Instagram, até já anda! Permitir que tanta gente acompanhe nossa vida à distância dá uma ideia de que está tudo indo bem. 


O segundo fator: meu filho é tão lindo! Preciso mostrá-lo ao mundo! Se ele balbucia, preciso filmá-lo e colocar online, as pessoas vão ficar loucas! É. Exposição demais? Há quem diga, mas entre gatinhos, cachorrinhos e bebês, mal preciso dizer quem é o melhor e o mais curtido.

Eu faço isso. Vocês devem fazer isso. Se não têm filhos, provavelmente o fariam do mesmo jeito que eu. 


Acontece que há um grande espaço entre o que somos, o que vemos dos outros, o que os outros veem de nós, e o que queremos ser. Isso não nos revela? A necessidade de mostrar que está tudo ótimo-perfeito-cor-de-rosa não pode esconder algumas coisas? Fico muitíssimo satisfeita com o fato da Stella já estar quase andando aos 10 meses, de ser super comunicativa, de nunca ter tido problemas de saúde, de ainda mamar no peito, de ser filha de um parto normal, etc, etc. Entretanto, me pergunto o quanto disso é orgulho próprio, autoafirmação (como vocês sabem, fui mãe aos 22 e realmente não esperava ser mãe aos 22. Então, a cada vitória ou simples normalidade da Stella, comemoro para mim e para os outros. Muitas vezes me julguei incapaz de ensinar uma criança a fazer qualquer coisa), resposta aos outros, e quanto disso é genuíno – eu, feliz, tentando passar boas lições ao próximo sem esperar nada em troca. 

E confesso: fico culpada em sair, trabalhar muito, não dar o melhor do melhor para Stella. 
Enquanto escrevo esse texto, estou culpada por não estar olhando para a minha filha (que está brincando na minha frente) tanto quanto olho para o laptop. Mas confesso isso aqui, no blog, num espaço bem menos visado que o Facebook ou o Instagram. Enquanto isso, no Instagram, vejam fotos da Stella sendo o bebê mais lindo, fofo e esperto do universo. 

Fica a pergunta: Narciso postaria uma selfie ou basta saber que ele é demais? O quanto precisamos mostrar de nós mesmos querendo nos afirmar?
E quando ninguém pode te ver, o que você é?