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domingo, 18 de janeiro de 2015

Ser mãe em tempos de selfie

Se eu tivesse.... 
Se eu tivesse um somatório de fatores que agora não tenho (entre elas, real inspiração), pintaria uma frase que vi um dia num quadrinho de MDF: “Os filhos aprendem com o que somos quando ninguém nos vê”. A frase é tão boa e tão carregada de significados atualmente que eu seria capaz de pintá-la num quadrinho e pendurá-lo na minha casa, em algum lugar onde não seria esquecido.

Pensemos: o que somos quando ninguém nos vê? Quando estamos diante de nossos filhos, sejam eles pequenos ou grandes, ou nós ocupados ou desocupados, pacientes ou impacientes, afim de conversa, interação, ou apenas querendo ser transparente...? 

A condição de mãe faz de mim (e espero que de todas as mães) um ser que, apesar de desaparecida para tantos outros (os amigos, especialmente), nunca mais poderá ser transparente. Assinei um contrato de presença infinito com a minha filha e para ela tenho que estar sempre presente, visível, à distância de um chamado. Enquanto for um bebê ou até uma criança pequena, minha presença no maior tempo possível é determinante para o seu desenvolvimento, suas relações com os outros e consigo mesma. 

Bem, ser transparente parece ser um mero conflito interno meu. Muito pelo contrário, o que todos querem atualmente passa muito por ser visto. O tempo todo. O que fulano está fazendo? Basta ir no Facebook e descubro. Descubro onde trabalha, com quem anda, os lugares que frequenta, entre tantas e tantas outras informações na beira do dispensável e até do perigoso.

Mas tudo bem. Quem não faz assim hoje, né? Quem não é visto não é lembrado. Para ser legal e ter mais amigos, parece quase necessário que estejamos conectados o tempo todo. E além – que sejamos vistos, fazendo de nossas vidas novelas para qualquer público que seja. 

É assim com os jovens. É assim com tantas pessoas mais velhas que conheço. Suas memórias passam a estar ligadas diretamente ao que foi para o Facebook, para o Instagram, para o Twitter (e a subjetividade? Será que essa gente faz diário?). Tudo bem, características do século. Essa é a cultura do nosso tempo. 

Acontece que às vezes viramos mães (é, é bem assim). O que fazemos com todo o narcisismo de nosso tempo? Ué, incluímos nossos filhos! Passando por todas as questões de segurança (que muitas vezes não pensamos), a verdade é que simplesmente precisamos expor nossas vidas. E por quê? Primeiramente: se a maternidade se refere a um natural processo de internalização de novos valores e de certo “sumiço” para os outros, o fato de vivermos nesse tempo tão narcísico permite que nos exponhamos mesmo sem nem sair de casa. É um sinal de que está tudo bem. – Não vejo fulana há um ano, mas o filho dela está uma gracinha no Instagram, até já anda! Permitir que tanta gente acompanhe nossa vida à distância dá uma ideia de que está tudo indo bem. 


O segundo fator: meu filho é tão lindo! Preciso mostrá-lo ao mundo! Se ele balbucia, preciso filmá-lo e colocar online, as pessoas vão ficar loucas! É. Exposição demais? Há quem diga, mas entre gatinhos, cachorrinhos e bebês, mal preciso dizer quem é o melhor e o mais curtido.

Eu faço isso. Vocês devem fazer isso. Se não têm filhos, provavelmente o fariam do mesmo jeito que eu. 


Acontece que há um grande espaço entre o que somos, o que vemos dos outros, o que os outros veem de nós, e o que queremos ser. Isso não nos revela? A necessidade de mostrar que está tudo ótimo-perfeito-cor-de-rosa não pode esconder algumas coisas? Fico muitíssimo satisfeita com o fato da Stella já estar quase andando aos 10 meses, de ser super comunicativa, de nunca ter tido problemas de saúde, de ainda mamar no peito, de ser filha de um parto normal, etc, etc. Entretanto, me pergunto o quanto disso é orgulho próprio, autoafirmação (como vocês sabem, fui mãe aos 22 e realmente não esperava ser mãe aos 22. Então, a cada vitória ou simples normalidade da Stella, comemoro para mim e para os outros. Muitas vezes me julguei incapaz de ensinar uma criança a fazer qualquer coisa), resposta aos outros, e quanto disso é genuíno – eu, feliz, tentando passar boas lições ao próximo sem esperar nada em troca. 

E confesso: fico culpada em sair, trabalhar muito, não dar o melhor do melhor para Stella. 
Enquanto escrevo esse texto, estou culpada por não estar olhando para a minha filha (que está brincando na minha frente) tanto quanto olho para o laptop. Mas confesso isso aqui, no blog, num espaço bem menos visado que o Facebook ou o Instagram. Enquanto isso, no Instagram, vejam fotos da Stella sendo o bebê mais lindo, fofo e esperto do universo. 

Fica a pergunta: Narciso postaria uma selfie ou basta saber que ele é demais? O quanto precisamos mostrar de nós mesmos querendo nos afirmar?
E quando ninguém pode te ver, o que você é?

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