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segunda-feira, 23 de março de 2015

Carta para Stella em seu primeiro ano


Filha querida, 

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esta é uma carta que lhe escrevo em muitos dias. Não é possível deixar um relato deste nosso primeiro ano juntas em apenas uma sessão. É preciso voltar ao papel muitas e muitas vezes. Melhor para mim, que passo mais tempo a pensar em você. 

Estamos aqui para celebrar mais um dia 20 de março. É o meu primeiro ano como sua mãe. Neste longo ano, estivemos juntas e ensinamos uma a outra sobre noções que não tínhamos. Mutuamente crescemos. Naturalmente nos tornamos o que somos. Por maiores que fossem os desafios, amar você foi a coisa mais fácil do mundo. 

Dizem que a maternidade nos muda, mas eu não me sinto assim. A maternidade me apurou, legitimou a minha coragem, me fez mais segura das minhas atitudes e opiniões. 

No dia 20 de março de 2014, tive uma lição de coragem. Com uma gravidez de mais de 41 semanas e uma cesariana marcada, fui forte. Afirmei que comigo seria diferente. Com a gente seria diferente. Não poderia ser de outro jeito. Não sabendo o que estava fazendo, fui e fiz. Na noite em que você nasceu, eu me afirmei. Ninguém disse que seria fácil, mas também poucos disseram que seria tão bom. Um parto normal foi só o início da nossa história. No mesmo dia 22 de março, esse que comemoramos agora, nós íamos para casa juntos. Vivemos tudo juntos. 

Atualmente, depois de um ano de vida, você já demonstra que há mão dupla em tudo que sentimos e fazemos. Quando sorri, ri de nós, acorda e nos chama, nos oferece comida, nos dá abraços sinceros, se conforta em nossos abraços. Me lembro de como eu chorei ao te ouvir gargalhar pela primeira vez; de quantas vezes você me fez gargalhar. Nada do que vivemos poderia valer mais a pena. 


Quero sempre estar com você e te acompanhar nos seus passos. Quero que você seja você e prefira tudo o que te toca o coração. Quando estivermos (infelizmente) longe, que não esqueçamos uma da outra e do que vivemos juntas, descobrimos juntas. Que você carregue os meus valores e seja parte do meu legado na vida. Você me pegou num estado de maternidade mais bruto - sem saber de nada, fiz o que soube fazer. O resultado é visível. 

Ao mesmo tempo que tenho pena de que você cresça (porque você é muito fofinha e maravilhosa como está e eu tenho vontade de congelar o tempo e dormir abraçada com você para sempre), é gratificante saber que sempre estaremos juntas. Dizem que passa rápido. O triste é que passa.   

Você vai conhecer todo este amor quando se tornar mãe. Enquanto isso, você vai me amando como sua mãe e eu vou te amando muitão como filha, tá? 

Obrigada por ter vindo tão cedo. Assim passamos mais tempo de nossas vidas juntas.   

Te amo como amei as principais coisas da minha vida. Vivo com você, para você, através de você, por você. 




Mamãe. 


(esta carta foi impressa, assinada e estará guardada para a Stella ler e reler quando quiser)

quinta-feira, 19 de março de 2015

Há um ano que não durmo


Há um ano que não durmo. Há um ano que vivo mais do que o esperado. De todas as formas de viver, optei por isto. A maternidade é um vício que eu gosto de exercer. Há um ano que não durmo. Nino, brinco, amamento. Mas não durmo. Escrevo, leio, trabalho, produzo, me formo, mas não durmo. No comercial da Ortobom, lá estava a sentença: trate bem o seu colchão, você passa um terço da vida sobre ele. Um terço. Eu? Eu não passo um terço não, obrigada.



Muito se fala sobre o místico sono das mães. O comparam com as fadas e os unicórnios. Ele de fato existe? Pragas são rogadas. Do lado de cá, muito se reclama. Dormir vira um bem precioso, uma moeda de troca. Tudo vira. Um banho longo. Um bom jantar. Dormir é presente de aniversário, férias, etc.
Nego todos os rótulos e lhes apresento a verdade:
eu
gosto
de viver
assim.


Vejam bem, não que não haja cansaço. Há cansaço, e muito. Mas, por outro lado, encontro forças que nunca achei que tivesse. Me obrigo a dormir só pra não quebrar recorde, não virar a noite em claro. Se não tivesse nada para fazer no dia seguinte, acho que assistiria um filme por madrugada.

Sabe o que acontece com uma mãe? Ela se torna resiliente. Só os fortes sobrevivem. Descobri que eu funciono bem dormindo 6 horas por dia e acordando pelo menos uma vez por noite. Senão, já tinha cedido a babás, "técnica" de deixar o bebê chorando caso ele acorde, mandingas, viagens sem a cria, qualquer coisa. 
Estou há 365 noites sem as tais 8h seguidas. Parece chocante quando eu digo, mas na prática não é ruim. Devo estar envelhecendo, mas a causa é justa. Há muitos meses que eu simplesmente acordo sozinha no meio da noite - e eis o relógio biológico mãe-bebê. Às vezes eu acordo e a Stella só acorda um tempo depois.

Descobri que nesse tempo de sono perdido, ganho coisas. Não dormir é psicodélico. Entra-se num estado de superalerta. Me sinto no Clube da Luta, mas sem insônia ou qualquer tipo de sentimento negativo. Quando acordo de noite, penso. Faço planos. Tenho ideias. Aproveito do silêncio.

Houve um tempo no qual eu me estressava por viver assim. Já tentei fazer a Stella dormir um sono regrado - mas olha a maternidade anarquista aí de novo. Convenço-me de que um dia ela vai aprender a dormir por mais de 5h seguidas. Eduquei-a para dormir de noite, e isso faz de nós seres civilizados. Mas não ouso ir além. Já passei boas noites em claro tentando seguir técnicas de livr... por que estou fazendo isso?

No aniversário da Stella (20 de março), comemoro: o meu primeiro ano como mãe, o primeiro aniversário do meu bebê, um ano de amamentação, um ano sem dormir uma noite inteira. Se eu ligo? Not at all.

E digo: filhos são ótimos remédios para insônia, dramas paralelos desnecessários, preguiça e falta de produtividade/má gestão própria.

segunda-feira, 9 de março de 2015

Tem uma mãe no BBB

Vocês assistem o BBB? Já assistiram? Sabem do que se trata? Pois é, eu assisto diariamente. Assisto porque pessoas são sempre interessantes. Assim como sempre leio os 50 fatos de vocês, quero saber mais sobre pessoas. O que fazem, como vivem, como se relacionam.

No dia da mulher de 2015, uma coisa diferente aconteceu no BBB: uma participante decidiu sair do jogo. Isso já aconteceu antes, mas nunca tendo percorrido um caminho tão longo. De um lado, vemos Tamires - paulista, 24 anos, cirurgiã dentista, chorona, e mãe - muito emocionada, dizendo que estava feliz em sair, que sentia saudade de casa, de sua filha de 3 anos, que não estava sendo ela mesma. Do outro lado, vemos a Globo puta da vida. Pelo jeito, "desistir" do BBB depois de toda aquela seleção de candidato é altamente frustrante para a produção. Boninho, Bial. Ana Maria Braga estava mais séria hoje do que ultimamente. Um a menos encurta o jogo. Diminui o tempo de patrocínio. É menos voto. É menos programa. É menos dinheiro.

Fiquei muito chocada ao ver o que o Boninho disse para os restantes. Frases como "quem sai é desistente, é perdedor" são muito rudes e desumanas. Sei lá, parecia que ela estava abrindo mão de uma enorme oportunidade. Abrindo mão. Boninho usou palavras como "suicídio de candidato". Gente?!

É que algo estranho acontece conosco; nós, as mães. Para mim, Tamires não é perdedora. Ela apenas optou por manter seus valores - ao ver que eles não estavam sendo exercidos, ela entende que não está satisfeita e decide ficar em paz ao sair da situação. Desperdício de oportunidade? Será? 

Hoje pela manhã, Ana Maria Braga (sim) perguntou, em voz séria e dura, se ela estava decepcionada com o jogo, se havia pensado que seria diferente. Tamires nos mostra (acho que pela primeira vez) um lado humano daquilo tudo. Ao invés de festas, bebedeira, piscina e academia de graça, dentre outros, Tamires sentiu a ausência de sua família, a pressão dos demais concorrentes, o clima pesado de um jogo de eliminação de pessoas. 

Aprendam: tudo na vida tem um preço.

Enquanto mãe, o que eu não consigo entender é: o que há de errado? Isso é parte de ser mãe. A partir do que se torna "mãe", nenhum momento que não é compartilhado é completo. Um pedaço de nós se vai a cada distância. Se ganhamos e não estamos próximos aos filhos, a vitória jamais será completa. Pode parecer pouco ficar três meses longe de um filho. Mas, acreditem, eu (por enquanto) não ficaria nem três dias. A saída não foi somente por isso, mas com certeza absoluta esse fato pesou. Pode ser que outra candidata com um filho menor quisesse ir até a final com garra - no caso de Tamires, não. E tudo bem, obrigado.


A Tamires não ganhou R$1,5 milhão, mas ganhou a presença de sua filha quando sentiu que não aguentava mais ficar longe dela. O que há de errado nisso? Ser mãe é ganhar mais humanidade. As pessoas vêm antes das coisas. No polêmico dia da mulher, isso foi discutido: geralmente são as mulheres que abrem mão de carreiras, bons empregos e super oportunidades pelos filhos. Às vezes abrimos mesmo. Se abrimos, é de coração e, mesmo sentindo a perda destas demais coisas, preferimos abrir do que se perder de um sentimento que é tão importante. É duro decidir e "desistir" das oportunidades, mas há algo de mais especial que acaba valendo a pena. 

E dica: vamos parar com essa de acusação de desistência. Todos são livres para mudar suas trajetórias. Eu já ouvi esse discurso antes e ele me mostra que há muito a ser mudado. Mudar de trajetória não é desistir, é se reinventar. Não só as mães deveriam poder abrir mão das coisas que não gostam. Todos deveriam poder.

domingo, 1 de março de 2015

A Maternidade Anarquista

Hoje fui acordada com uma chuva de comentários negativos nos grupos de maternidade que sigo no Facebook. Todos atacavam um post do Hospital Israelita Albert Einstein, de SP, que, contrariamente ao que diz a OMS, instruía a não amamentar assim que a criança chorasse (pois isso daria a ideia de que amamentação seria ligada ao carinho, não apenas à alimentação), ensinar a criança a não dormir no quarto dos pais e não embalar para dormir. O Hospital afirmava que, ao fazer isso, evitava-se a criação de hábitos ruins, difíceis de substituir. O negócio foi tão ruim que até foi tirado do ar.

Tirando todo o absurdo retrógrado que isso é (é criminoso, eu diria), a nível de Dr. De Lamare, fiquei pensando: quantas mães acreditam nisso? Quantas grávidas desinformadas caem nessa balela e fazem isso com os filhos? Quantos bebês sentem fome e necessidade de carinho e não são correspondidos? Você faria isso com o seu bebê?

Durante a minha vida poucas vezes pude exercer exatamente o que eu quis. Deixei de fazer ou fiz tantas coisas por indicação, pedido ou ordem dos outros. Porque aquilo era o "certo", o socialmente aceito, o que não pegaria mal. Tudo bem, né. É necessário. Quando criança, quando adolescente, agora que já sou mais adulta. Sigo fazendo inúmeras coisas que são as mais indicadas ou recomendadas. Por que, meu Deus? Se elas vão contra o que eu quero ou imagino ser o melhor pra mim, por que ainda as faço?? Oh, o conflito interno.

Apesar de tudo, encontrei um espaço aonde a hierarquia não existe. Aonde eu posso fazer o que acredito ser melhor porque compete a mim decidir. Contrariando livros, médicos, hospitais menas, outras mães, minha mãe, e tantas outras entidades de pressão e poder... eis que veio a maternidade. 






Crio uma menina há quase um ano à moda da casa. Amamento o quanto eu quiser, dormimos na cama com ela, não demos chupeta, ela toma banho de chuveiro comigo, ela veste preto/cinza/azul (cor de menino? Você acha?) e nunca usou esses trecos perigosos para bebês (tipo presilhas ou faixas), ela já viajou de avião e de ônibus, nunca dei complemento de leite, dorme tarde e acorda tarde, não ensinamos a ficar um tempão presa no carrinho, hoje em dia come até no meu colo (e não necessariamente na cadeira-trambolho), não comeu antes dos seis meses, nunca comeu açúcar, fica no colo SIM, é embalada SIM, foi parto normal SIM, não faria cesariana por escolha. Ela é criada com muito amor e apego. Queremos que ela seja uma adulta com confiança para viver sua vida bem, e por isso garantimos base para tal. 


Crio minha filha com o que para nós parece o mais certo. Não é o que estava nos livros, ou o que o pediatra disse, ou o que fulana ou fulano falou que fez e deu super certo. No máximo me guio pela OMS. De resto, temos confiança e seguimos o que o nosso instinto diz. E o feedback da Stella, que anda, fala algumas palavrinhas, é super comunicativa e simpática, só chora de sono, nunca teve um resfriado e fica bem com tantas pessoas que não eu ou o pai nos mostra que por enquanto dá certo (e quantas coisas são classicamente feitas, mas estão erradas?).


Queria eu ter coragem para guiar outros assuntos inteiramente dessa forma. A vida vai dizer se estivemos certos - e em que ponto de vista.