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sexta-feira, 28 de agosto de 2015

A mulher e os filhos

[esse texto é duro]

Um dos pontos fortes da vida recente nas redes sociais tem sido o clamor pelos direitos e lutas femininas. Capas de revistas simplesmente geniais pipocaram e eu estou caindo de amores pela internet. Volta e meia surgem textos sobre questões das mulheres que poucos pensam, e muitas escondem e relevam - ou melhor, relevaram. O grito feminino virtual dá mais poder ao grito audível, ao posicionamento, à igualidade.

Puxando a sardinha pro meu lado, há algo que me chama atenção. Uma tendência social, pode-se dizer. Um comportamento em evolução das mulheres. Se há cem anos todas as mulheres eram compulsoriamente casadas e mães - exceto as freiras, suponho (ou até as freiras madalenas reformadas, como mostra o filme Philomena), hoje, cada vez mais, há uma demora maior para que a mulher decida se casar ou se tornar mãe. Mais independência financeira e profissional, carreiras mais sólidas, viagens, ou simplesmente mulheres que não querem ter filhos (ou, ainda não).

Tenho 23 anos e como tantas, minha gravidez não foi planejada. Sim, acho que isso vai continuar acontecendo na minha geração, na geração da minha filha, neta, bisneta. Não se freia o desejo. De qualquer maneira, sei que queimei a largada. Minha mãe me teve aos 36 anos. Eu poderia ter esperado mais 5, 10, 15, 20 anos para ser mãe. Não esperei. 

Tudo bem.

Acontece que, silenciosamente ou não, existe um embate entre mulheres que têm filhos e aquelas que, por um motivo ou outro, não. Acho que não tem sororidade que ultrapasse a competição humana. As mulheres com filhos se acham mais vividas, mais felizes, mais sofridas, mais espertas, mais sábias, mais maduras. As mães com mais filhos acham isso das mães de um filho só. Se você tem um filho de 5 anos, provavelmente já pensou isso de uma mãe de um bebê de 6 meses.

Admita.

Não sou contra a competição humana, aliás. Acho que a ideia de subir um degrau na vida depois da maternidade, sei lá, meio que válida. Afinal, achar isso de si mesma é um dos poucos reconhecimentos. Como dizem os textos de Facebook, você não ganha troféus por virar noites acordada com seu filho doente ou ganha prêmios quando o leva ao pediatra. Você só está fazendo sua obrigação.

Parêntese pessoal: para uma menina que engravidou sem querer aos 22 anos, eu deveria ganhar prêmios pela minha maternidade. Estupidez e arrogância? É. Mas é o que sinto. Nunca, nunca pensei que fosse render tanto. Aos 22 ou aos 40, ser mãe é difícil pra caralho. Cada vez fica mais difícil. Quando vejo meninas da minha idade fazendo coisas que eu perfeitamente poderia estar fazendo, penso "poxa, eu poderia estar fazendo isso". Em seguida, penso "mas o que estou fazendo tem mais valor para mim e isso me engrandece como pessoa". E tudo bem. E o esforço é válido. E o reconhecimento, por mais que seja somente meu, também me orgulha.

Ainda defendo a não-maternidade quando essa for a opção. É lógico que sim. Quem não quer ter filhos, evite-os. Simples. Não me tornei uma doutrinadora de pré-mães. E nem olho para meninas da minha idade com olhos de soberba. Vocês aí, eu aqui. É bom quando nos misturamos. Vou tentar não ser chata não falar de filho o tempo todo. 
O que eu não defendo, de maneira nenhuma, é a ideia de uma vida que só toma sentido depois dos filhos. Sabe quem fala "filhos, minha razão de viver", "filhos, depois que vocês chegaram, minha vida começou de verdade"? Não sou eu. Sempre ouvi isso como uma espécie de anulação, como se a vida da mulher de nada tivesse valido até os filhos aparecerem. Esse é um dos pensamentos mais retrógrados que alguém pode ter sobre si mesmo. Quando escuto coisas assim, penso em Vidas Secas. Numa vida árida, sem graça, sem perspectiva, a qual a única forma de amor legítimo é a maternidade. Penso numa família com 10 filhos porque ter filhos é a única alegria possível.  

A minha vida era completa sem a Stella.
A minha vida é completa com a Stella.
Fica esse como o meu manifesto.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Retribuição

Começamos a tê-la ao nosso lado no inverno passado. Era frio e parecia o certo a fazer. Como deixar tal criatura em seu tamanhozinho de botão ali, sozinha, sem o calor de seus pais?
Sei do tabu de dormir ao lado dos filhos, mas eu sinceramente não consigo não praticar esse apego. Hoje a cama é dividida em três. Se dormíamos, eu e o pai, numa cama de solteiro, nada mais justo do que uma cama de casal para a família toda.
Dormir sem ela? Já não sei. Me nutro da necessidade que acho que ela tem de mim. De repente ela nem precisa tanto assim de mim, mas eu preciso dela. Preciso acordar do seu lado, fazer carinho em seus cabelos, dormir mais um pouquinho. Raras foram as vezes em que dormimos separadas desde do que começamos, mas nenhuma delas foi ideal. Dizem que uma mãe nunca mais dorme - eu, mãe que sou, sem planejar, só durmo bem com ela do lado.
Nada melhor do que uma tarde dormindo juntinhas. Organizei minha vida para poder aproveitar as maravilhosas tardes em que pegamos no sono ao mesmo tempo. Também acordamos juntas. Para vários aspectos, ainda somos uma só.
Normalmente ela não gosta de dormir agarradinho, como eu adoraria. Pena. Seria a minha melhor conchinha. Depois de mamar e cair em sono profundo, ela se desvencilha dos meus braços protetores e vai dar piruetas sonadas, chutes na cara do pai. Tudo bem.

Essa noite, apesar de tudo, foi diferente. Num rompante de raiva, vejo o pai se levantar, ligar a luz do quarto e caçar um mosquito. Ao mesmo tempo, Stella dá uma choradinha e se vira para bem pertinho de mim, [depois de um ano inteiro], fundindo-se ela mesma
na melhor e mais especial conchinha.

Não me lembro exatamente de como foi, mas me lembro da sensação.
Assim são os filhos: passamos a vida a dar tudo o que temos e o que somos sem nada pedir em troca;
quando, por um acaso, por sorte ou por azar, eles retribuem...
parece que ganhamos o mundo inteiro.