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quinta-feira, 31 de julho de 2014

Parte I: Estudar, maternar, vencer

       Quem gosta de desafios?
     Semana que vem eu começo o oitavo e último período da minha faculdade. Faço Administração desde 2011 e, depois de muitos amores e desamores dentro da condição de estudante, finalmente chega o fim. Ansiosa? Empolgada com o porre da festa de formatura? Saudosa da "galera"? Simplesmente de saco cheio de ir para o Centro do Rio de Janeiro todos os dias? Acho que não. Nada disso. Há um sentimento muito maior em mim: o de orgulho.
     Estes breves anos que passei dentro desta faculdade (porque tinha feito um ano de Ciências Econômicas) me trouxeram viagens, um livro publicado, trabalhos, um namorido, uma mudança de casa, uma mudança para a vida adulta. Estes anos me trouxeram uma filha. Quatro anos de momentos intensos nos quais eu ainda me dei o luxo de ainda reclamar de tédio a certas horas. Uma menina de 18 anos sairá como uma mulher, mãe, profissional. E o que muitos podem ter considerado como "a pedra no sapato" - ter um filho durante os anos letivos - é a minha cereja do bolo.
     Logo assim que engravidei, fui na colação de grau dos meus veteranos da turma de Economia, a 2009.1 da UERJ. Acho que só me emocionarei mais na minha própria colação e na colação dos meus filhos. Estava numa época confusa e não queria, de maneira alguma, perder aquilo que estava tão perto de mim. Será que eu teria que abrir mão da formatura em Administração? Os anos investidos iriam simplesmente se perder? Ou seria eu uma estudante fadada àqueles cursos intermináveis, que duram 6, 8, 10 anos?
     Eu era (e sou) MUITO caxias em relação aos meus estudos. Sou uma CDF assumida. Estudar para mim não é peso e eu sentia estar no caminho certo em ADM. Enquanto a emoção vinha ao ver meus amigos formados, eu pensava que não, eu não deixaria de me formar, por mais difícil que fosse.
     Conversei com uma amiga, mãe de três filhos, que me lançou uma sugestão nova: a licença maternidade durante os estudos. O quê? Isso existia? Para mim, engravidar durante a faculdade era não muito mais do que um risco a se assumir e algo a se perder.
     Ela insistiu e me pediu para pensar a respeito. Minha ideia inicial, sinceramente, era trancar um período e voltar depois - perderia assim a formatura com a minha turma original e o TCC, feito em grupo. Tudo bem, assim seria.
     Seria? Sou muito ambiciosa para isso.

     Eis aí o artigo que me salvou a graduação:

LEI No 6.202, DE 17 DE ABRIL DE 1975.


Atribui à estudante em estado de gestação o regime de exercícios domiciliares instituído pelo Decreto-lei nº 1.044, de 1969, e dá outras providências.



        O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o CONGRESSO NACIONAL decreta e eu sanciono a seguinte Lei:



        Art. 1º A partir do oitavo mês de gestação e durante três meses a estudante em estado de gravidez ficará assistida pelo regime de exercícios domiciliares instituído pelo Decreto-lei número 1.044, 21 de outubro de 1969.


     É, parece que Costa e Silva e Geisel acertaram em algo. Com essa lei, é permitido que as mães tirem 3 meses de licença sem que percam seus semestres letivos. Conversei com alguns professores e eles me disseram que sim, era melhor fazer isso e terminar logo de uma vez do que trancar e talvez nunca mais voltar a estudar. Eles estavam certos. Uma professora me disse "aproveite enquanto sua filha é um bebê. Assim que ela andar, você vai ver o que é trabalho". Dou graças a Deus por ter ouvido coisas assim. Não parar
de estudar iria me exigir concentração, força de vontade e até um pouco de sangue frio (afinal, deixar um bebê novinho NUNCA é fácil), mas o que me custaria parar?
     Naquele momento, havia seis matérias e um TCC entre as minhas mãos e um diploma. E veja só: com três meses em casa, seria mais "fácil" fazer aquelas matérias (que só seriam assistidas presencialmente dentro de um mês) do que simplesmente trancar um período e ter que fazer tudo, integral e presencialmente, no semestre seguinte.
     A Stella nasceu um pouquinho "depois" do que eu previa, na verdade. Tirei minha licença assim que entrei no oitavo mês (em fevereiro) e ela só veio no final de março. Tínhamos só seis semanas juntas o tempo inteiro. Ah! E não devo me esquecer que para que as faltas fossem abonadas, eu tinha que fazer o TCC à distância e trabalhos das seis matérias (e duas provas quando voltasse). Portanto, o tempo "inteiro" seria quebrado por horas diárias (3, 4 e às vezes 5) diante do computador, lendo, fazendo resumos em inglês.
     Tá achando fácil? Pegue todos os trabalhos que você faz em grupo, faça-os sozinho e com um bebê de poucas semanas. Cara, foi difícil PARA CACETE. O cansaço, a vontade de ficar agarrada no bebê 100% do tempo e o total alheiamento ao resto do mundo me separavam de faculdade. Quando, em 1º de abril, peguei o primeiro trabalho para fazer, parecia que estava há ANOS longe da escola. O que era aquilo? Em que ano estamos? Eu ainda sei escrever? O que são esses símbolos... ah, são números? Tive que entrar no ritmo rápido. E a Stella também. Sabe que foi bom? Acho que isso me colocou a noção de que eu precisava de rotina e a minha filha também. Foi punk fazer isso - lógico que um bebê sai da barriga da mãe sem noção de hora, dia, espaço. Ensinar o que é dia e o que é noite para a minha filha me fez sentir tipo Deus fazendo o universo. Precisava ser feito. Se eu perdesse a data de entrega desses trabalhos - 25 de abril, me lembro bem - eu seria reprovada em tudo.
     Não.
Stella cantando para mim enquanto estudamos.
     Um recém nascido não se distrai com objetos e mama tipo de uma em uma hora. Um recém nascido quer ficar pertinho, sentindo o calor de um outro corpo. A primeira vez que vi a Stella concentrada em algo foi quando ela tinha umas 3 semanas - quando nós acordávamos, eu abria a janela e ela ficava ali, olhando para a luz, sem chorar ou reclamar. Ali foi o começo da consciência dela quanto ao mundo. Lembro-me de escrever meu TCC I de bruços na cama num lap top enquanto cantava para a Stella. E enquanto isso, o couro comia no meu dever de casa.
     Dia 25 de abril chegou e eu entreguei aquela (desculpa) meleca toda. Eu tinha vencido o primeiro mês - não só de mãe, mas de cumuladora de funções.
     Duas semanas depois, era hora de voltar a frequentar a faculdade. Também não foi fácil. Deixar a Stella em suas seis semanas me partiu o coração. Eu conversava com ela e chorava, dizendo que a mamãe estava ali, pedindo a ela que não me esquecesse. Meu grande medo era que ela sentisse fome no período em que eu estivesse fora e, tomando mamadeira (com o meu leite, é claro), preferisse o leite da garrafa.
     Mas fui. Graças a minha sogra, uma eficiente encantadora de bebês, a Stella esteve dormindo na grande maioria dos dias em que saí (e fiquei fora por algumas horas). Eu a amamentava de duas em duas horas quando estava em casa e a deixava dormindo no início da noite. Em seis semanas de aula, Stella tomou apenas duas mamadeiras.
     No final do sétimo período, recebi resultados positivos: o abono de faltas em todas as matérias, um CR até maior do que os anteriores e 8 no meu TCC I, o que foi muito melhor do que 10 enquanto uma garota normal.
     Volto à faculdade na semana que vem só para fazer TCC II. Deixarei estes quatro anos da minha vida com a consciência limpa e com muito orgulho do que fiz... e da Stella, por me entender em tudo isso.

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Saudações

     Oi! Muito prazer. Meu nome é Laura e eu tenho 22 anos. Sou carioca, namorada do Guilherme, estudante de administração e estagiária do Contas a Pagar. E mãe.
     Crio este blog para quem estiver aí, do outro lado. Vejo a grande diversidade de páginas de mães contando suas experiencias e defendendo seus pontos de vista... até que penso, por que não eu? Autora de um livro publicado, alguns completos na gaveta e dezenas que não passaram da quinta página, estava na hora de voltar a escrever coisa que prestasse.
     Confesso que é mais difícil escrever quando se lê pouco, o que tem acontecido comigo. Com a soma de funções, eu juro que prefiro fazer o mínimo de esforço mental para me distrair quando há tempo - e pode não parecer, mas às vezes até tirar uma soneca é difícil. Não terminei o último livro que abri, ainda grávida. A leitura diária fica por conta de jornais online e esses milhares de blogs por aí.
     Escrevo para as mães, não mães, jovens, mais velhas, garotas, mulheres, homens, humanos. Sei que a maioria das meninas de 22 anos treme ao escutar a palavra "grávida" ou "filho" (já fui uma dessas), mas os relatos daqui podem servir a todos que estão atrás de uma história interessante. Como vim parar aqui? E como o universo mudou e de repente eu virei mãe?
     Stella nasceu no dia 20 de março de 2014, o último dia de Peixes (e tem ascendente em Peixes - socorro - mas tudo bem, Johnny Cash também era assim...eu disse tudo bem?) e última manhã do verão. Estava um calor senegalesco, mas dane-se, estávamos num hospital e lá o frio reinava. Ela veio de parto normal (graças a Deus!, quase ganhei mais uma cicatriz), com 49 cm e 3,150kg (para quem não sabe, uma recém-nascida absolutamente normal). Na data, os que nos visitaram na maternidade disseram que ela era uma bebê realmente bonita e que não tinha cara de joelho. Eu sei lá. Claro que ela era bonita, oras. Mas não devo me esquecer de que eu não era muito chegada a bebês no geral, e por isso não tinha muita base de comparação.
     Em seus quatro meses, Stella se mostrou mais do que bonita ou fotogênica. Stella é a minha melhor companhia para sempre e eu sou muito, muito satisfeita de tê-la comigo. Estamos apenas no início de nossa trajetória pela vida.
     Nos vemos por aqui!