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sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Educação: é boa e eu gosto, mas tá em falta

    Quando eu estava grávida, uma das coisas que mais me incomodava era a bendita hora de pegar transporte coletivo. Andar no Rio de Janeiro aos 7, 8 ou 9 meses de gestação, período de janeiro a março, poderia ser uma prova de amor a qualquer coisa que estivesse do lado de fora de casa. Jurei a mim mesma milhares de vezes que não engravidaria novamente antes de ter um carro. Mas, devo admitir, o lado bom era que as pessoas me davam o lugar (o reservado ou qualquer outro). Ué, mas esse não deveria ser um direito da gestante, assim como é de um idoso, deficiente e etc?

Depois de saúde, felicidade, boa sorte, etc, o maior sonho de uma grávida.

     Deve haver algum lugar neste mundo no qual as gestantes sejam identificadas antes que tenham barrigas enormes. Nisso eu acredito, nisso eu tenho fé. Japão, Noruega, Canadá. Porque no Rio, ah, pode se preparar para reclamar. As outras condições que dificultam a locomoção podem ser mais visíveis (embora os velhinhos sejam vítimas dessa queixa à educação, ou ode à  falta de), mas é aquela grávida de poucas semanas que mais exige atenção. 
    Apesar de não "aparentar", uma gestação de primeiro trimestre é aquela que mais guarda riscos para a mulher. Além dos clássicos enjoos e indisposições, é durante essa fase que muitos cuidados especiais devem ser tomados, como proteção a doenças e o começo do controle de condições como a diabetes e a hipertensão. O que isso tem a ver com ônibus lotados? É durante esse mesmo período que a mulher corre mais risco de ter um aborto espontâneo. Lembremos que, no comecinho, um feto é nada mais que um corpo estranho ao corpo materno, e este pode rejeitá-lo caso o sistema imunológico não se adapte à nova condição. 
    Estou sendo pessimista? Tudo bem, mas essa pode ser a fase mais desagradável. Uma grávida pode simplesmente querer um lugar para se sentar e ar fresco. Porém, ao entrar num ônibus lotado, ela não terá evidências "físicas" para pedir um lugar no banco amarelo. E aí? E lá, no banco amarelo, ao invés de alguém que tem o direito de estar ali, está alguém sem nenhum tipo de condição especial. 
     No começo, eu ficava triste. Fazia cara de sofrimento. Passava a mão na barriga. E nada. Só ganhei 9kg na minha gestação e as pessoas passaram a me dar lugar só aos 6 ou 7 meses - quando a indisposição passou, veio a barriga, redondinha que só. Até lá, foi muito chá de (sic) ônibus lotado. Ficava imaginando um jeito de fazer as pessoas se conscientizarem, especialmente essas que ocupam cadeiras especiais à toa - cartazes, camisetas informativas, campanhas políticas. Na minha cabeça, eu seria uma vereadora das grávidas. Ai ai. Quando via uma senhora sendo grossa com uma dessas pessoas, pedindo corretamente o lugar para sentar, eu vibrava silenciosamente. Até que um dia foi comigo - uma velhinha beem velhinha me falou "você é uma garota, por que está no lugar especial? Me deixe sentar". Eu amarrei a cara, falei "deixo, porque a senhora tem o direito" e me levantei. Debaixo da minha bolsa de trabalho, estava uma Stella de 8 meses nadando na minha barriga. A senhora ficou meio sem jeito e pediu desculpas, dizendo que se soubesse, teria pedido o lugar a outra pessoa. Depois, fiquei pensando. Ela deveria reclamar em praticamente toda viagem de ônibus com garotas como eu - ou quase.
     Eu, que já não me sentava numa cadeira especial antes, nunca mais voltei a ocupá-las depois da minha gravidez. Ninguém com consideração ao próximo deveria fazê-lo. Parece básico dizer isso, mas muitas pessoas burlam regras sociais tão simples. Cedam o lugar, esse gesto faz a diferença.

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