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sábado, 2 de agosto de 2014

A brava mãenina

     Volta e meia aparece uma menina grávida. Midiáticos que somos, gostamos desse tipo de notícia. Uma manchete que inclua um nome, baixa idade e a palavra "grávida" nunca passa incólume - acho que é condição de nosso tempo, ser fofoqueiro com tudo. Passado o choque (se a grávida é conhecida, o choque é maior ainda), alguns sentimentos podem vir: pena, repulsa, escárnio. Aquela ideia invencível de "comigo não".
     Dia desses veio a notícia de uma das integrantes do Bonde das Maravilhas estava completando seus quinze anos enquanto gestava o primeiro filho. No Facebook, a reação é clara: engravidou? É pobre, funkeira, estava até demorando para engravidar. Vi todos os comentários. Pensei.
     Embora haja uma boa diferença entre 15 e 21 anos (a idade que tinha quando engravidei da Stella), eu claramente não pensava em ter filhos antes dos 25, pelo menos. É o clássico plano: você se forma na faculdade, viaja bastante, estuda mais um pouco, arruma um bom emprego. Conhece alguém. Demora anos para ir morar junto ou até se casar, já que precisamos ter certeza na vida, né? Aí, se engravida. Só aí. O Guilherme, que tem 31 anos, tem a grande maioria de seus amigos (obviamente bem mais velhos do que eu) ainda num desses estágios. Conhecemos pessoas de 30 anos ou mais que não estão nem querendo sair da casa dos pais. A essas pessoas, uma notícia de gravidez precoce pode soar muito, muito impressionante. E: se a menina do Bonde das Maravilhas engravidou aos 15, que justificativa eu, de classe média, estudante de faculdade e instruída tinha para engravidar aos 22?
     Peço uma coisa: quando avistarem uma menina grávida, respeitem-na. É INCRIVELMENTE difícil fazer algo que vai contra a cultura de um povo. Pode ser gratificante, mas sempre é difícil e pode causar sofrimento. Muitas mulheres têm filhos durante a vida e cultivam essa vontade desde jovens - e são elas que também olham para as precoces com escárnio, preconceito, pena.

Stella em suas 39 semanas de forninho.


     Uma mãe pode surgir aos 15, aos 22, aos 30, aos 40. Assim como pode não surgir. Idade não determina coragem ou capacidade para nada. Aos 22, vejo que alguns planos se alteraram por causa da vinda da Stella, mas não me olhem como se eu tivesse perdido alguma coisa. Um filho é um ganho. Só se perde quando se quer perder.
     Passei a minha gravidez um pouco triste, esperando reações negativas das pessoas. Boa parte delas nem soube da Stella antes que ela chegasse ao mundo. Sabia que me julgariam. Cheguei a ouvir que a minha gravidez era um "mau passo", como se a minha vida estivesse fadada para sempre. Peço, não julguem. Respeitem as grávidas (inicialmente porque são grávidas) e porque tiveram a coragem de se assumir assim. É difícil criar um plano B a tudo aquilo que nos é imposto - essa ordem de viver - e se há esse plano B, uma mulher não perderá nada. Ser mãe é se reinventar e sempre ser capaz de fazer o que parece ser impossível.      
     Todo o tempo que passei "envergonhada" pelos outros por estar grávida está sendo compensado pela qualidade de cuidados dados à Stella e pela felicidade em nossa relação. Aos 22, tenho energia para fazer tantas coisas. Minha filha é criada pelos pais, em nossa casa, que pagamos com o nosso dinheiro, do nosso trabalho.

     A todas as mãeninas: vocês têm a minha admiração. 

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